O investimento na fábrica foi estimado em US$ 600 milhões, com geração de 2.500 empregos diretos
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O mercado estava em ebulição, com vendas em alta, polêmicas envolvendo restrições aos importados |
Luís Alberto Alves/Hourpress
Há 25 anos a PEUGEOT confirmava a instalação de uma fábrica no Brasil, localizada na cidade de Porto Real (RJ). Essa história se cruza com a do primeiro modelo da marca construído no país, o 206 – que, naquela época, não era conhecido nem como protótipo.
A disputa foi intensa. O Estado do Rio de Janeiro despontou como uma possibilidade em 1996, mas Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo haviam apresentado seus planos para atrair o grupo PSA (que reunia as marcas PEUGEOT e Citroën). O mercado estava em ebulição, com vendas em alta, polêmicas envolvendo restrições aos importados e um novo regime automotivo que estimulava a produção regional.
O investimento na fábrica foi estimado em US$ 600 milhões, com geração de 2.500 empregos diretos e consolidação do polo industrial no sul fluminense. A capacidade anunciada era de 100 mil unidades por ano, em três turnos.
As obras começaram em maio de 1998, e a primeira etapa foi a terraplanagem do terreno de três milhões de metros quadrados. Os trabalhos continuaram mesmo quando o cenário econômico mudou, no segundo semestre daquele ano. A crise global afetou fortemente o Brasil e fez diversas empresas congelarem seus planos de investimento. O grupo PSA seguiu em frente.
Na época, a PEUGEOT tinha 80 concessionárias no Brasil, e seu carro mais comercializado era o hatch médio 306. Já estava definido que o modelo produzido em Porto Real seria um compacto de apelo popular, o que exigiria a ampliação da rede de revendedores.
O futuro nacional seria o 206, cujo desenho definitivo era um dos segredos mais bem guardados da indústria automotiva. Os faróis que lembram olhos felinos só foram conhecidos em março de 1998, no Salão do Automóvel de Genebra.
A estreia foi em forma do protótipo conversível 20 - um coração substituía o “6” nas placas colocadas no carro. Em francês, a pronúncia dessa nomenclatura (“vingt couer”) remete à palavra “vainqueur”, que significa vencedor.
Após um período de apresentações à imprensa, o lançamento oficial do 206 ocorreu em outubro de 1998, na 100ª edição do Salão do Automóvel de Paris. Um desfile pela avenida Champs Elysées celebrou o centenário, e coube ao 206 aparecer à frente de automóveis históricos da PEUGEOT, carregando o galhardete com o nome da marca.
O carro estava em todos os cantos do estande da montadora no parque de exposições Paris Porte de Versailles. Além das versões que chegaram às ruas, havia o modelo que seria usado no WRC (campeonato mundial de rali) e o conceito Escapade. Além de antecipar o nome de versões disponíveis no Brasil, esse protótipo já previa o futuro segmento de SUVs compactos.
Na época, jornalistas brasileiros testaram o novo PEUGEOT na comuna francesa de Vittel, que fica a aproximadamente 300 quilômetros de Paris. Durante a avaliação, itens tecnológicos distantes do mercado nacional chamaram a atenção. Na Europa, o 206 podia ser equipado com navegação por GPS, que oferecia instruções por voz em cinco idiomas.
O acabamento também foi destaque, com detalhes como a tampa do porta-luvas revestida com o mesmo tecido usado na forração das portas.
A chegada ao mercado nacional foi rápida: o 206 estreou em março de 1999. As versões disponíveis eram Soleil, Passion e Rallye, todas importadas da França e equipadas com motor 1.6 (90 cv) a gasolina.
Em abril daquele ano, seu primeiro mês completo de vendas, o novo compacto da PEUGEOT teve 657 unidades emplacadas. Foi o carro importado mais vendido do país, um ótimo sinal para um modelo que já tinha a produção confirmada no Brasil e na Argentina.
O sucesso trouxe um problema: as filas de espera. Em julho de 1999, quem quisesse um 206 teria de esperar cerca de 60 dias para receber o carro. Nesse mesmo mês, entretanto, teve início a produção na fábrica de El Palomar, região metropolitana de Buenos Aires. Em pouco tempo, o fornecimento para o mercado brasileiro se tornou mais regular.
Enquanto isso, as obras em Porto Real seguiam em ritmo acelerado. As linhas de produção começaram a operar no início de 2001, quando o grupo PSA começou a produzir o compacto e a minivan Xsara Picasso, lançada em abril.
Por ser um carro de maior volume de vendas, o 206 nacional passou por um período maior de formação de estoque e distribuição pelos concessionários. Suas vendas tiveram início no dia 28 de junho de 2001, com motor 1.0 16v (70 cv) a gasolina.
Ao longo de sua história, o hatch recebeu diferentes motorizações, ganhou carrocerias SW e CC (Coupé Cabriolet), teve séries especiais com itens exclusivos (como o teto solar da versão Moonlight) e encerrou sua história com mais de 8 milhões de unidades comercializadas mundo afora.
Seja importado da França ou produzido na América do Sul, o 206 permaneceu em linha por 10 anos no Brasil. Seu substituto foi o 207, que também teve versões exclusivas: o sedã Passion e a picape Hoggar.
A linhagem teve continuidade com o 208, cuja produção em Porto Real teve início em janeiro de 2013. Seu sucessor manteve o nome, mas se transformou em um carro completamente novo.
Produzido em El Palomar desde julho de 2020, o 208 atual é derivado da plataforma modular CMP, que revolucionou a história da marca francesa e hoje está presente em diversos modelos globais do grupo Stellantis, sejam elétricos ou equipados com motor a combustão.
Essa plataforma também está presente no Brasil: um investimento de R$ 220 milhões, anunciado em outubro de 2019, transformou a fábrica de Porto Real em uma das mais modernas do mundo, capaz de produzir automóveis movidos por qualquer tipo de energia.